É preciso falar sobre a morte
Buenos dias Matosinhos. Olhóje abioje lá atraje. Não estou na praia, mas estou quase, vou para o Porto Santo de férias este Domingo e estou bastante entusiasmado. Mas hoje não vos venho falar de Verão, nem de praia, venho falar-vos da morte. Tema negro, mórbido, no entanto, inevitável, vamos todos bater a bota, não têm escapatória, a não ser que ainda vivam mais umas décadas e inventem uma maneira de armazenar o cérebro humano num computador ou algo assim. Ah, não se esqueçam de ir ouvir o meu podcast se querem deitar umas pinguinhas nas cuecas de tanto rir, já lancei três episódios e eles estão à vossa espera. Vão ao meu instagram (@sobre.sombras) e têm os ditos cujos na bio.
Este tema surgiu-me na minha moleirinha ao ouvir a “Smells like teen spirit” dos Nirvana. Eu muitas vezes sinto que nós, sociedade, damos mais valor às pessoas quando elas morrem. Mais uma vez, um aviso, sei que não é em todos os casos, mas sempre que alguém morre há imensas homenagens, fala-se muito do assunto, equecetera, mas e enquanto a pessoa está viva? Que tal admirarmos o Sam The Kid como um dos pioneiros do rap em Portugal, que ainda hoje está ativo em vários projetos e foi um pilar importantíssimo da música portuguesa? Porque não continuar a enaltecer a Dulce Pontes como grande artista que é e que leva a música nacional para outros territórios?
A música dos Nirvana tem 2 biliões de reproduções no Spotify e o vocalista já morreu há décadas. Não faço ideia se ele era admirado quando era vivo, e é excelente que o seu legado se mantenha vivo, mas o gajo está morto, ele não está cá a ver o sucesso que tem. O António Variações, por exemplo, também continuou relevante após a morte. Não tenho a certeza, mas julgo que era um artista que esteve à frente do seu tempo e que até foi mais apreciado anos depois de falecer do que quando andava no ativo.
E fora da arte? Vocês dão valor às pessoas que estão agora vivas e que são importantes nas vossas vidas? Ou esperam para que elas partam para chorar por elas, arrependerem-se do que não disseram, do que não fizeram, do que deviam ter feito diferente?
Para concluir, eu concordo plenamente em valorizar e homenagear quem já cá não está e de facto há imensos artistas excecionais que merecem continuar vivos nos nossos sentidos, só acho que ás vezes esquecemo-nos de valorizar quem está agora no ativo. Contra mim falo, antes da Sara Tavares falecer eu conhecia pouco das suas músicas e só depois explorei mais e dou por mim a cantar “Diz-me coooisas boniiitaaaas” enquanto estou a cozinhar. Sim, sou uma velha que cantarola enquanto faço tarefas domésticas.
Deixo-vos ir em paz com um poema que eu escrevi no passado que acho relevante para o tema. Vão dar um abracinho aos vossos entes queridos e apreciam o aqui e o agora, nunca se sabe quando é a última vez que vemos alguém.
Queimei todos os obituários
Acendo velas para os vivos
Planto sementes
E celebro o crescimento das plantas
Os troncos das árvores que não plantei
São corações que batem nos meus ouvidos.
Outrora feijões minúsculos
Sujos de terra e inexperiência
Hoje monumentos com metros de altura
Ultrapassados por arranha-céus que já ruíram
Preferia que não chorássemos apenas
Com a desflorestação
Mas nos nossos quintais
E dos vizinhos
Cuidássemos dos nossos jardins
E a noite fosse iluminada por pavios de todas as casas