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Sobre sombras

Escrevo sobre tudo e mais alguma coisa. Não me levem muito a sério.

Escrevo sobre tudo e mais alguma coisa. Não me levem muito a sério.

21
Ago24

É preciso falar sobre a morte

Buenos dias Matosinhos. Olhóje abioje lá atraje. Não estou na praia, mas estou quase, vou para o Porto Santo de férias este Domingo e estou bastante entusiasmado. Mas hoje não vos venho falar de Verão, nem de praia, venho falar-vos da morte. Tema negro, mórbido, no entanto, inevitável, vamos todos bater a bota, não têm escapatória, a não ser que ainda vivam mais umas décadas e inventem uma maneira de armazenar o cérebro humano num computador ou algo assim. Ah, não se esqueçam de ir ouvir o meu podcast se querem deitar umas pinguinhas nas cuecas de tanto rir, já lancei três episódios e eles estão à vossa espera. Vão ao meu instagram (@sobre.sombras) e têm os ditos cujos na bio.

 

Este tema surgiu-me na minha moleirinha ao ouvir a “Smells like teen spirit” dos Nirvana. Eu muitas vezes sinto que nós, sociedade, damos mais valor às pessoas quando elas morrem. Mais uma vez, um aviso, sei que não é em todos os casos, mas sempre que alguém morre há imensas homenagens, fala-se muito do assunto, equecetera, mas e enquanto a pessoa está viva? Que tal admirarmos o Sam The Kid como um dos pioneiros do rap em Portugal, que ainda hoje está ativo em vários projetos e foi um pilar importantíssimo da música portuguesa? Porque não continuar a enaltecer a Dulce Pontes como grande artista que é e que leva a música nacional para outros territórios?

A música dos Nirvana tem 2 biliões de reproduções no Spotify e o vocalista já morreu há décadas. Não faço ideia se ele era admirado quando era vivo, e é excelente que o seu legado se mantenha vivo, mas o gajo está morto, ele não está cá a ver o sucesso que tem. O António Variações, por exemplo, também continuou relevante após a morte. Não tenho a certeza, mas julgo que era um artista que esteve à frente do seu tempo e que até foi mais apreciado anos depois de falecer do que quando andava no ativo.

E fora da arte? Vocês dão valor às pessoas que estão agora vivas e que são importantes nas vossas vidas? Ou esperam para que elas partam para chorar por elas, arrependerem-se do que não disseram, do que não fizeram, do que deviam ter feito diferente?

Para concluir, eu concordo plenamente em valorizar e homenagear quem já cá não está e de facto há imensos artistas excecionais que merecem continuar vivos nos nossos sentidos, só acho que ás vezes esquecemo-nos de valorizar quem está agora no ativo. Contra mim falo, antes da Sara Tavares falecer eu conhecia pouco das suas músicas e só depois explorei mais e dou por mim a cantar “Diz-me coooisas boniiitaaaas” enquanto estou a cozinhar. Sim, sou uma velha que cantarola enquanto faço tarefas domésticas.

Deixo-vos ir em paz com um poema que eu escrevi no passado que acho relevante para o tema. Vão dar um abracinho aos vossos entes queridos e apreciam o aqui e o agora, nunca se sabe quando é a última vez que vemos alguém.

 

Queimei todos os obituários

Acendo velas para os vivos

Planto sementes

E celebro o crescimento das plantas

 

Os troncos das árvores que não plantei

São corações que batem nos meus ouvidos.

Outrora feijões minúsculos

Sujos de terra e inexperiência

Hoje monumentos com metros de altura

Ultrapassados por arranha-céus que já ruíram

 

Preferia que não chorássemos apenas

Com a desflorestação

Mas nos nossos quintais

E dos vizinhos

Cuidássemos dos nossos jardins

E a noite fosse iluminada por pavios de todas as casas